Artigos Gracielle Torres (2)
Qual o perfil de um pedófilo?
Hoje pela manhã, quando navegava pelo site da Childhood, na seção de Perguntas e Respostas mais frequentes, deparei-me com a resposta para a seguinte pergunta:
P: Existe um perfil que identifique o indivíduo que abusa sexualmente de crianças ou adolescentes?
R: Não. Os abusadores podem ser pais, mães, padrastos ou madrastas, avós, tios e primos. Podem ser também vizinhos, babás, líderes religiosos, professores ou treinadores. Pertencem a todas as classes sociais, raças, orientações religiosas e podem ser homo ou heterossexuais. Alguns deles têm relações sexuais com outros adultos e não são unicamente interessados em crianças.
Logo depois li uma matéria no jornal O Tempo de hoje e gostaria de usá-la para ratificar plenamente a afirmação acima. Não há um perfil exato para caracterizar um abusador. Na grande maioria das vezes são pessoas comuns, que têm uma vida normal e com comportamento e sexualidade aparentemente normal, até serem descobertos. Nesta matéria, um pintor que foi acusado de abusar sexualmente de crianças, reúne 4 características que reafirmam a diversidade do perfil que um abusador pode assumir: paternidade, relação parental com a vítima, heterosexual e atração não exclusiva por crianças.
Outro fato interessante desta notícia é a artimanha utilizada pelo abusador para se aproximar das vítimas: uniu diversão e tecnologia, dois atrativos irresistíveis para uma criança, criando um jogo interativo de perguntas e respostas, semelhante a uma gincana, cujos acertos levariam a uma recompensa e os erros ao "pagamento de uma prenda". Assim percebemos o quanto audaciosas e criativas são as ações de pedófilos para atrair crianças, muito embora todas elas caiam invariavelmente no poder do reforço positivo, ou seja, oferecer uma recompensa a um dado comportamento de modo a aumentá-lo. Neste caso o abusador oferecia dinheiro, mas muitos oferecem presentes, brinquedos e uma infinidade de recompensas atrativas para as crianças.
Proteger uma criança de alguém que não possui um perfil exato e nem um modo comum de agir, é uma tarefa que envolve educação sexual e senso crítico. Pais devem falar a seus filhos sobre abordagem sexual imprópria por parte de adultos ou colegas muito mais velhos e sobre troca de favores e presentes oferecidos por estranhos. Se a criança souber o que é ou não normal para sua sexualidade e aprender a recusar favores ou presentes de estranhos, não importando o quão atrativos eles sejam, ela conseguirá identificar rapidamente a situação em que haja a combinação destes dois fatores cuidando de sua própria segurança.
Nota em 06/07/2012: Reafirmando ainda mais a diversidade do perfil de um pedófilo, acrescento ao final uma matéria que saiu hoje, 06/07/12, no Estado de Minas, sobre um homem de 77 anos acusado de abusar sexualmente de uma garota de 16 anos.
Por Gracielle Torres
Pintor cria jogo para abusar de adolescentes
Segundo a polícia, quem errasse as respostas de perguntas feitas pelo suspeito era obrigado a prestar favores sexuais a ele
Um pintor de 50 anos suspeito de estuprar a própria sobrinha, de 11 anos, e outras garotas adolescentes foi preso em Juiz de Fora, na Zona da Mata, na manhã de ontem. Para atrair as vítimas, ele convidava as meninas para participarem de uma gincana, por meio de celular.
"Quem acertava as perguntas que ele enviava ganhava R$ 50 em dinheiro. Já quem perdesse deveria prestar favores sexuais ao suspeito, como fazer sexo oral com ele, conforme constatamos em mensagens encontradas no celular de uma das garotas", explicou o delegado Leonardo Bueno Procópio, da Delegacia de Proteção e Orientação à Família.
Uma menina de 12 anos, amiga da sobrinha do suspeito, foi convidada pela vítima para participar do jogo, mas estranhou o conteúdo sexual da mensagem recebida e avisou a mãe. A mulher denunciou o caso à Polícia Civil, que armou uma emboscada para o suspeito na manhã de ontem.
Casado e pai de um casal de adolescentes, o pintor foi pego em flagrante, alisando os cabelos e os braços da amiga da sobrinha. Na casa dele, a polícia encontrou material pornográfico.
Encaminhado ao Centro de Remanejamento de Segurança Prisional de Juiz de Fora, o homem deve ser indiciado por corrupção de menores e favorecimento à prostituição e à exploração sexual. A pena pode passar de 30 anos de prisão.
De acordo com o delegado, o resultado dos exames médicos feitos na sobrinha do suspeito, que pode confirmar se houve o estupro, deve ser conhecido amanhã.
Fonte: Jornal O Tempo - 05/07/2012
Idoso é preso por pagar adolescente de 16 anos para fazer sexo
O homem foi preso durante uma blitz na Rua Caetano Pirri, no Bairro Milionários. A jovem estava no carro e acabou contando que recebia dinheiro e lanches em troca de favores sexuais
Um idoso de 77 anos foi preso na noite de quinta-feira por pagar uma adolescente para fazer sexo com ele. O homem foi flagrado durante uma blitz na Rua Caetano Pirri, no Bairro Milionários, Região do Barreiro. Os policiais sinalizaram para que o motorista, condutor de um Ford Ka, parrasse no bloqueio, mas perceberam que o homem ficou muito nervoso. O homem é inabilitado, mas além disso havia outro problema com o motorista.
Os policiais perceberam que no banco de trás estava uma adolescente de 16 anos usando uma blusa com capuz. Ela tentou se esconder, mas o militares ordenaram que saísse do veículo. A menor revelou aos policiais que conheceu o idoso há cerca de dois meses, quando começou a receber dinheiro em troca de favores sexuais.
O homem dava R$ 10 ou R$ 20, além de pizzas e sanduíches para que a jovem tivesse relações com ele. A adolescente relatou que mora com a mãe e havia faltado de aula para se encontrar com o idoso. Disse que a mãe não sabia dos encontros, por isso entrou no carro encapuzada para não ser vista.
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Pintor é preso em flagrante por aliciar e abusar sexualmente de duas meninas A PM prendeu o idoso em flagrante por favorecimento de prostituição de menores e foi até a casa dele. No local encontrou a mochila da adolescente. Ela deixou material na residência para sair com o idoso. Os dois iriam comprar um pizza e voltariam ao imóvel para fazer sexo.
Os militares entraram em contato com a mãe da jovem, que é cozinheira. Ela alegou que trabalha o dia todo e nem imaginava que a filha estava se prostituindo. Achou que a menina ficava na escola. O idoso foi encaminhado para a Delegacia do Barreiro para autuação.
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Fonte: Jornal Estado de Minas - Luana 06/07/2012
Depressão Infantil: como reconhecer os sintomas
Quando falamos de violência sexual infantil, procuramos trabalhar sempre com a prevenção procurando conhecer o perfil de um abusador, os ambientes e situações que ponham em risco uma criança, mas é necessário também aprender a reconhecer o seu comportamento quando já foi vítima de um abuso, pois em muitos casos elas são agredidas e ameaçadas pelo agressor para manter silêncio.
Neste caso, é de suma importância observar alterações no seu comportamento. Um dos principais sintomas de crianças que sofreram abuso sexual é a depressão. O medo, a vergonha, o sentimento de culpa e de impotência levam a criança à um quadro de total introspecção e isolamento social.
E ainda há outros tipos de violência como a violência psicológica que também provocam este quadro, como o bullying ou cyberbullying. Em ambos os casos, as crianças que sofrem a agressão sentem medo de procurar um adulto para contar o que está acontecendo, pois o próprio fato de revelar que estão sendo vítimas de agressões com as quais não souberam lidar ou defender-se sozinhas, causa-lhes constrangimento fazendo-as se sentirem culpadas e incapazes.
É neste momento que um relacionamento próximo, com diálogo aberto e apoio moral e sentimental dos pais, pode quebrar o silêncio e retirar a criança de uma grande agonia. A proximidade dos pais reconforta e encoraja a criança a se abrir. É neste momento que ela deve receber toda a atenção, carinho e proteção necessários para se libertar do sentimento de culpa, principal fator que desencadeia a depressão.
Mas você sabia que a depressão se manifesta em crianças de maneira diferente dos adultos?
De acordo com a Academia Americana de Psiquiatria Infantil, esses são alguns dos principais sintomas de depressão infantil:
O mais importante para tratar crianças ou adolescentes que se encontrem em depressão é que os pais procurem sempre estar disponíveis para o diálogo, conheçam seus amigos e estejam atentos a mudanças abruptas de comportamento em casa e na escola, tais como sintomas como diminuição da alegria, tendência a se sentir culpado, distúrbios de sono, falta de apetite, falta de interesse nos estudos e perda de vontade de frequentar a escola.
Nestes casos, quanto mais cedo a identificação, melhores as chances de a criança responder bem a um tratamento de psicoterapia.
Abaixo, a matéria sobre Depressão Infantil, de Paloma Oliveto, divulgada pelo portal UAI em 11/06/2012.
Por Gracielle Torres
Depressão é mal que não tem idade
Estima-se que até os 18 anos 5% das pessoas tenham ao menos um episódio de depressão. Se tratado corretamente em adolescentes e crianças, geralmente não se repete de forma crítica na fase adulta
Ana* tem dificuldades para dormir, se sente inútil , cansada e insegura. “Quando acordo, não tenho disposição para aguentar mais um dia”, conta. “Muitas vezes, me sinto culpada pelo que me tornei hoje ou por coisas do passado que atormentam minha mente, meu coração. Não sei se um médico pode ajudar. Acho que a única coisa que eu quero é o abraço de um verdadeiro amigo. Me sinto deprimida e sozinha, cansada de tudo e de todos.” A situação enfrentada por ela não é incomum: segundo a Organização Mundial da Saúde, 121 milhões de pessoas sofrem de depressão. O problema é que esse é o depoimento de uma menina de 12 anos.
Há poucos dados sobre a incidência da depressão entre crianças e adolescentes, mas a Academia Americana de Psiquiatria Infantil e da Adolescência (Aacap) estima que 5% dos indivíduos com menos de 18 anos passarão, em algum momento dessa fase, por um episódio depressivo. Estresse, perdas, distúrbios de atenção e de aprendizagem são apontados pela Aacap como principais gatilhos, com o agravante de que, ainda considerada um mal dos adultos, a depressão pode receber pouca atenção dos pais e responsáveis. Ana vive com a avó, que, segundo ela, não desconfia de seu estado. “Comecei a ficar assim há dois anos, quando um tio de que eu gostava muito foi assassinado. Eu sei quem é o assassino e, toda hora, acho que ele pode vir aqui em casa para matar a gente também”, diz.
A psicóloga Kátia Cristine Cavalcante Monteiro, do Hospital Universitário Walter Cantído, da Universidade Federal do Ceará, alerta que é preciso ter cuidado ao diagnosticar um adolescente como depressivo. “Do meu ponto de vista, o risco maior é a banalização do uso de medicamentos e do diagnóstico da doença”, diz.
De acordo com a especialista, a adolescência é uma fase de perdas simbólicas e isso pode despertar sentimentos característicos de luto. “As constantes flutuações de humor e do estado de ânimo podem ser consideradas um recurso defensivo do comportamento do jovem para aplacar os conflitos internos e auxiliar na elaboração das situações de perda”, diz. Nesses casos, o processo é natural e não exige tratamento, pois não são situações patológicas.
Psicóloga e pesquisadora da Universidade de Vanderbilt (EUA), Judy Garber concorda que a adolescência é um momento de turbulências inerentes à fase. Ela recomenda que, quando há sinais de que os jovens começam a entrar em um processo depressivo (leia quadro), a terapia cognitiva em grupo pode evitar que, mais tarde, eles se tornem adultos atormentados. Judy é autora de um estudo publicado no Jornal da Associação Médica Americana no qual afirma que 20% dos adolescentes com depressão diagnosticada e não tratada sofrerão da forma crônica da doença, com episódios recorrentes ao longo da vida.
Prevenção
“Uma intervenção preventiva, principalmente no caso de adolescentes cuja mãe ou cujo pai têm depressão, é o melhor caminho para evitarmos o agravamento do problema”, diz a americana, acrecentando que, depois depois de acompanhar 316 jovens de 13 a 17 anos, constatou que a depressão dos pais aumenta, nos filhos, de duas a três vezes o risco de os jovens sofrerem do mesmo mal. “Quando, porém, eles recebem um atendimento precoce – no nosso caso, sessões de terapia em grupo com uma hora e meia de duração ao longo de oito semanas –, esse risco praticamente desaparece.”
A dificuldade, porém, é quando nem os pais nem os educadores percebem que os filhos podem estar precisando de ajuda. É o caso de Taís*, de 16 anos. Com falas de um adulto, ela diz que já passou “por muita coisa na vida”. “Fumei, bebi, sofri bullying e os professores não faziam nada. Às vezes, choro sem motivos, me sinto triste, magoada, ressinto do meu passado, me sinto sem ânimo de fazer as coisas. Eu tenho vontade de fazer as coisas, mas elas não passam de sonhos e vontades porque, muitas vezes, sinto que nem sonhos eu tenho mais”, afirma, em um discurso confuso.
A garota de família humilde – a mãe, solteira, é auxiliar de limpeza – largou a escola neste ano. pior de tudo é o desprezo que sofremos da sociedade, da nossa própria família. Me isolei de todo mundo. Quando minha mãe chega em casa, fica brigando comigo, dizendo que eu sou uma vagabunda e que não ajudo em nada. Isso se torna uma bola de neve, que vai crescendo mais e mais”, relata.
Diana*, de 15, passa por uma situação semelhante. “Minha família diz que sou preguiçosa, não estudo, não faço nada em casa e que não sirvo para nada. Durmo o dia inteiro e, à noite, vou para o computador”, confessa. “Sinceramente, não sei o que fazer da minha vida, não tenho vontade de estudar e sempre me diminuo em tudo.” A garota conta que sofre com comentários da mãe de que ela está gorda. “Ela vive dizendo que estou virando um balão, que já posso vestir as calças dela, de tão grande. Minha irmã diz que não presto para nada, que nunca faço nada e que, quando faço, não é da forma certa, que só sei quebrar e bagunçar as coisas. Não quero nada da minha vida”, desabafa.
A psicóloga Kátia Cristine diz que não existe receita de bolo para os pais, mas reforça a necessidade de compreensão e respeito entre ambas as partes. “Em qualquer situação, o mais importante é que os pais procurem sempre estar disponíveis para o diálogo com o adolescente, conheçam seus amigos e estejam atentos a mudanças abruptas de comportamento em casa e na escola.”
Pressão desencadeia processo
Cobranças intensas podem deflagrar episódios depressivos, de acordo com Ellen McGreth, psicóloga infantil americana e autora de diversos livros comportamentais. “A depressão está aumentando em adolescentes e crianças, e as razões para isso são muitas. Nunca os jovens enfrentaram tantas cobranças para ter sucesso. Os adultos querem que eles se destaquem, mas não os ensinam a lidar com isso, e o resultado são distúrbios alimentares, ansiedade e agressão”, afirma.
Ela conta que tem percebido uma verdadeira epidemia de baixa autoestima no consultório, principalmente de meninas desesperadas com questões estéticas. Mesmo crianças muito pequenas começam a sofrer os efeitos das cobranças sociais, afetando diretamente a saúde mental. Um estudo das universidade canadenses de Montreal, de Laval e de McGill, além do Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica, da França, identificou que 15% dos alunos da pré-escola mostram níveis altos e atípicos de depressão e ansiedade. A pesquisa foi conduzida ao longo de cinco anos com 1.758 crianças de Quebec e, assim como nas investigações de Judy Garber, constatou-se que filhos de mães deprimidas têm maiores riscos de sofrer do mesmo mal.
“Nesses casos, a negligência em relação à identificação de sintomas é ainda maior do que entre adolescentes porque crianças na fase pré-escolar apresentam um comportamento depressivo diferente das mais velhas”, conta Sylvana M. Côté, professora do Departamento de Medicina Social e Preventiva da Universidade de Montreal, principal autora do estudo. “Essas crianças podem não parecer obviamente tristes e terem, de fato, períodos de resposta social normais ao longo do dia. Uma forte característica, porém, é a perda de vontade de fazer coisas que antes eram prazerosas.” Sylvana diz que psiquiatras infantis têm estratégias especiais para reconhecer a depressão e a ansiedade entre os pequenos. “Conversas direcionadas a essa faixa etária podem identificar sintomas como diminuição da alegria, tendência a se sentir culpado e distúrbios de sono.”
Quanto mais cedo a identificação, melhores as chances de a criança responder bem ao tratamento. De acordo com a canadense, como o cérebro infantil ainda está em desenvolvimento, ele se adapta rapidamente a novas experiências. “Me refiro à psicoterapia. Tratá-las com medicamentos é algo extremamente delicado. Há estudos mostrando que antidepressivos podem ser efetivos, mas os efeitos colaterais em crianças não foram bem explorados e podem ser alarmantes”, pondera.
* Os nomes são fictícios em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
Fonte: Portal UAI - 11/06/2012