Crianças, principalmente meninas, são expostas à mídia e às exigências do capitalismo e têm sua sexualidade despertada desde cedo.
Uma linda garotinha de 4 anos, com seus fartos e armados cabelos louros, aparece diante às câmeras com uma roupa sexy de couro e, segurando na sua pequenina boca um cigarro, faz uma pose sensual de Olivia Newton John em Grease. No mesmo palco, outra menininha desfila, ao som de Pretty Womam, sobre um par de botas que ultrapassa o joelho e termina numa minissaia provocante que Júlia Roberts usara em seu papel de prostituta. Esses são exemplos da bizarrice que se tem visto no programa de TV britânico Toddlers & Tiaras, no qual meninas pequenas são transformadas em verdadeiras mulheres formadas e - o mais importante para os jurados que ali avaliam quem é mais maliciosa - provocantes.
Maysa, a garota prodígio-apresentadora-cantora-atriz, também quer – ou é pressionada a - ser adulta, mas ao menos é dada ênfase em seus potenciais múltiplos talentos e não em seu apelo sexual, a despeito das conseqüências negativas que podem haver neste caso, como o peso da fama e falta de tempo para brincar. O problema aqui tratado é quando as crianças justamente têm o próprio corpo e percepções sensualizados, em detrimento de outras características.
Tais garotas são o arquétipo perfeito de um processo a que normalmente se denomina sexualização precoce. Meninos e meninas de até 12 anos estariam cada vez mais expostos a um movimento ou uma pressão para se tornarem miniadultos. A psicóloga Mariana Chalfon afirma que um conjunto de fatores contribuem para a antecipação das percepções sexuais da criança. Um deles é atribuído ao apelo do consumo, já que o mercado, em sua saturação, teria necessidade de diversificar-se e procurar por públicos cada vez mais segmentados, até alcançarem as crianças. Exemplos disso são os sapatos de salto para meninas, modelos de roupas iguais para mãe e filha. Outro fator citado é o apelo criado pela mídia. “Existe uma superexposição da criança aos conteúdos relativos à sexualidade de uma maneira indiscriminada, por meio das músicas "baixaria" e dos programas televisivos. Ainda que na programação da TV apareça a classificação etária, os pais muitas vezes permitem que a criança tenha acesso”, afirmou Mariana.
O psicólogo Wanderson Conceição também atribui ao capitalismo a precocidade sexual. Para ele, se antigamente as crianças de repente eram vistas como adultos e deveriam ser tratadas como tal, já que não existia o conceito de adolescência - e o exemplo perfeito disso seria a Maysa -, hoje a lógica do consumo parece novamente minguar a transição entre as faixas etárias, mas dessa vez sob o chamariz direto da sensualidade demandado pelo mercado – cujos exemplos extremos seriam as mini Olivia e Julia Roberts.
Como conseqüências do processo de sexualização precoce, elas podem estar relacionadas aos distúrbios típicos da adolescência, como depressão, ansiedade, bulimia e complexos. No entanto, os psicólogos lembram que eles são determinados também por diversos outros fatores sociais, como a necessidade extrema de eficiência, de aceleração constante e de superação dos limites e o hedonismo. E, uma vez não atendidas essas expectativas, e outras da ordem da sexualidade, o indivíduo pode se sentir frustrado. E muito mais ainda, quando ele é pressionado desde criança.
Fonte: Portal Uai
Postado por : Gracielle Torres